Eduardo Allgayer Osorio

Sobre os rios voadores da Amazônia

Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro agrônomo, professor titular da UFPel, aposentado
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Na faixa equatorial do Oceano Atlântico, os ventos quentes aí predominantes (ventos alísios) promovem a evaporação da água, carregando para o continente grandes volumes de vapor d'agua. Enquanto em estado gasoso, o vapor não precipita, precisando para isso condensar em torno de alguma partícula. Fluindo sobre a Floresta Amazônica, onde as árvores liberam para o ar minúsculas partículas de aerossol, o vapor d'agua condensa nelas formando gotículas que colidem entre si aumentando de tamanho até tornar-se suficientemente pesadas para precipitar na forma de chuva.

Deslocando-se no sentido leste-oeste, essa volumosa massa de ar úmido cruza a Amazônia até encontrar os Andes, uma imponente muralha rochosa com mais de quatro mil metros de altura que força uma mudança de rumo em direção ao centro sul-americano, sobrevoando a Bolívia, o Paraguai e os estados brasileiros de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo, progredindo eventualmente para os estados sulinos, formando os chamados rios voadores. Por onde passa, o ar úmido provoca chuvas intensas, infiltrando no solo um expressivo volume de água que abastece os aquíferos subterrâneos, dentre os quais o aquífero Grande Amazônia, o maior do planeta, que armazena estimados 160 mil quilômetros cúbicos de água (o aquífero Guarani, o segundo maior do planeta, possui um quarto desse volume de água).

Quando escasseiam as precipitações pluviais, as raízes das árvores buscam no subsolo a água armazenada, evaporando-a para a atmosfera em quantidades colossais (a floresta tropical evapora para o ar mais água do que igual área superficial oceânica), estimando-se que uma árvore de grande porte lança no ar por evaporação cerca de mil litros de água/dia (como a Amazônia possui 400 bilhões de árvores, fácil fica estimar o colossal volume de água disponibilizada). Tanta água possibilita duas colheitas num mesmo ano, uma usando a água da chuva e outra irrigada com a água contida no subsolo, extraída por energia hidroelétrica gerada nos grandes rios existente, num ciclo hidrológico contínuo, que soma a água disponível na bacia fluvial àquela contida no subsolo e no ar. Respeitada a preservação ambiental determinada no Código Florestal (obriga preservar 80% da floresta), ter-se-á na região uma exploração ecologicamente sustentável.

Estima-se que os rios voadores carreguem por via aérea uma quantidade de água muito superior à vazão de todos os rios da Bacia Amazônica. Levado pelos ventos, esse corredor de umidade encontra as frentes frias vindas do sul, conformando a denominada Zona de Convergência do Atlântico Sul, reguladora das precipitações ocorridas no Brasil Central, mais intensas nos meses quentes em que as altas temperaturas promovem maior evaporação da água oceânica.

Olhando o mapa mundial, vê-se que os grandes desertos do hemisfério sul, como o de Outback (cobre 56% do território australiano), do Calaári na África Austral e do Atacama no Chile, situam-se na mesma latitude do Brasil Equatorial. O que nos diferencia deles, evitando termos aqui imensos desertos, é a formação dos rios voadores na região Amazônica, ressaltando a importância de manter uma permanente preocupação em manter as condições deles determinantes, ou seja, a necessidade de preservar a Floresta.

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